Matéria publicada originalmente dentro da reportagem especial “Que Crise é Essa?” feita pelos trainees do programa de Foto & Vídeo da Folha de S. Paulo em 2015.
Matéria publicada originalmente dentro da reportagem especial “Que Crise é Essa?” feita pelos trainees do programa de Foto & Vídeo da Folha de S. Paulo em 2015.
A geração que começa a formar família hoje encara também sua primeira crise econômica. Frente a ela, esses jovens, que eram novos demais para sentir os efeitos da recessão da década de 90, são forçados a poupar e planejar melhor os gastos e os próximos passos da vida familiar.
Dos jovens brasileiros de 18 a 34 anos, 40% têm o sonho de formar uma família, segundo pesquisa realizada pela PUC-RS em 2013.
Por conta do otimismo com a economia de anos anteriores, alguns se tornaram reféns da própria esperança e agora, afetados pela crise, se viram obrigados a adiar planos. Mas há também os que encontraram na ressaca econômica uma chance para concretizar seus projetos de vida a dois.
GEISA E REBEKA
Em maio, a programadora Rebeka Maia, 29, ficou sem receber. A empresa de TI em que trabalhava, em São Paulo, disse que o salário atrasado seria pago o mais rápido possível. Ela, que “nunca havia precisado de um cartão de crédito na vida”, teve que usar o da namorada, a jornalista Geisa D’Avo, 31.
“Paguei o aluguel e as contas da casa no cartão, acreditando que aquele dinheiro ia entrar”, diz. Mas não entrou –Rebeka trabalhou três meses sem receber. As dívidas saíram do controle, e ela não conseguia mais pagar a fatura bancária. Endividada, se demitiu e foi buscar outro emprego.
O casal, que antes planejava ter um filho e comprar um apartamento, precisou reduzir despesas para pagar as dívidas recém-adquiridas. “O dinheiro encurtou, e começamos a cortar tudo que podíamos para não deixar virar uma bola de neve”, afirma Rebeka.
Para aumentar a vigilância das finanças pessoais, Geisa passou a acompanhar suas movimentações financeiras mais de perto, utilizando aplicativos de celular, como o Guia Bolso, e um quadro fixado na sala de casa, onde anota os futuros gastos. Rebeka usa um caderno onde escreve todas as suas despesas.
Velhos hábitos foram abandonados, e a saúde financeira melhorou quando Geisa venceu um antigo vício. “Fumava mais de duas carteiras de cigarro por dia. Quando botei na ponta do lápis, descobri que poderia economizar R$ 500 por mês.”
O dinheiro foi necessário recentemente, quando o carro do casal quebrou. A economia foi usada para fazer os reparos mais urgentes.
Com a mudança de prioridades, elas adiaram os planos de fazer uma inseminação artificial. “Queríamos engravidar daqui a um ano, mas vamos esperar mais”, diz Rebeka.
BRUNO E JACQUELINE
Para a psicóloga Jacqueline Esposito, 26, e o empresário Bruno Vieira, 28, planejamento é a palavra de ordem.
Com seis meses de namoro, em 2014, já começaram a poupar pensando em formar uma família. “Decidimos nos casar em novembro de 2016 e, desde então, mudamos nossa vida para isso”, conta Jacqueline.
Há pouco mais de um ano, juntaram as economias e aplicaram em um fundo de investimento. Guardam mensalmente 50% do que ganham. O fato de ambos morarem com os pais e a mudança de alguns hábitos, como evitar comer fora e recorrer a sites de compras coletivas, contribuíram para que conseguissem poupar.
Hoje, faltando um ano para a união, encontraram na crise econômica uma aliada na barganha. Uma boa entrada garantiu ao casal um desconto de 8% em um apartamento de 70 m² na zona oeste de São Paulo.
Na hora de planejar o casamento, marcado para novembro de 2016, os noivos procuraram uma consultoria financeira que negociou todos os contratos. “Conseguimos baixar o preço dos convites dos padrinhos de R$ 30 para R$ 25. Também conseguimos um desconto de mais de 10% na cobertura em foto e vídeo”, diz Jacqueline.
A meta do casal é ter três filhos. “Depois que casarmos e financiarmos o apartamento, começaremos a organizar a vinda dos filhos”, diz Bruno, que planeja o primogênito para 2018.
STEFANO MACCARINI fez o 1º Programa de Treinamento em Fotojornalismo e Vídeo da Folha, patrocinado por Friboi, Odebrecht e Philip Morris Brasil.