Texto e fotos: Stefano Maccarini
Publicado originalmente em medium.com/percursos em Agosto de 2016.
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Quando essa ideia de sair pela cidade conversando com pessoas tomou forma a primeira pessoa para quem contei foi o Giovani. Ele é ótimo pra rebater e discutir ideias e já veio com várias possibilidades de percurso, insistindo que fôssemos de bicicleta, um dos motivos pelo qual nos tornamos amigos.
Conheci o Giovani Castelucci, 28, quando tinha acabado de fazer meu primeiro aniversário de São Paulo, em 2014. Ele é natural de Ribeirão Pires e se mudou pra São Paulo em 2015. Antes disso, sair de Ribeirão Pires para ir a São Paulo era “ir pra cidade” e assim foi até a adolescência quando começou a colar no Hangar 110 dos anos 2000 (saudades do que não vivi). Trabalhou em alguns estúdios até começar o DAÓ, com o Guilherme Vieira. Também criou o Visitei, plataforma que organiza visitas a empresas de design e economia criativa.
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Nos encontramos no Vovô Ali às 13h para almoçar. “É árabe, é barato, eles são legais, é no centro e é uma delícia”. Não gastamos mais de R$20 por pessoa e comemos uma esfiha e um kebab cada. “Conheço a cidade por trabalhar e comer” conta.
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Destrancamos as bicicletas e descemos a Barão de Limeira até a ciclovia da Alameda Nottham. Passando por baixo do Minhocão, Giovani me atenta para um cartaz que o DAÓ fez para o Ibrasotope, núcleo de música experimental que atua desde 2007 em SP. É muito importante se ver na cidade, é uma construção mútua de identidade. É incrível como as pessoas que moram aqui tem essa vontade de se ver representadas nela de alguma maneira. O pixo é isso na sua versão mais crua. A cidade é uma plataforma e esses lugares como as pilastras do minhocão acabam se tornando espaços vazios de significado que a cidade preenche.
A intenção inicial era ir até um café em Santa Cecília pagar R$10 em um espresso servido por um barbudinho tatuado. No meio do caminho fomos interpelados por um barbudinho tatuado desconhecido de bicicleta, que perguntou ao Giovani onde ele tinha comprado o guidão dele. A conversa se desenrolou em torno de peças de bicicleta, estávamos os 3 com bicicletas do mesmo modelo. O barbudinho me salvou de pagar caro em café, nos convidando para conhecer o espaço-café foto-brechó-galeria-sebo de que é sócio, na Cesário Mota Júnior.
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Pedro Clash abriu a Casa Elefante no final de 2015 com mais um amigo. A política da casa permite você subir com a bicicleta e deixar onde quiser, além de portas abertas para animais de estimação. Uma boa seleção de discos está a venda, bem como bicicletas restauradas, publicações independentes, livros e roupas. Pedimos um café para dois, que Pedro faz na hora na Bialetti por R$3.
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De lá seguimos para a Casa Búlgara, no Bom Retiro. Como o lugar é muito roots e não aceita cartão, paramos no Banco do Brasil para sacar dinheiro. As burekas, uma espécie de donut balcânico folheado é o que você tem que comer lá. São feitas de maneira tradicional e a receita, dizem, é tão secreta que os funcionários só tem acesso as burekas para levar ao forno. Pedimos a salgada de batata e a doce de chocolate, Giovani virava os olhinhos daquele jeito, em mim não bateu da mesma maneira. Cada bureka custa R$6,00 e é um pouco menor que um salgado de padaria.
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Passamos pelo Hangar 110 no caminho para a Zona Cerealista (ZC), paramos para um momento de contemplação após concluir que o hipster de hoje é o emo de outrora e que o Hangar é o CBGBs do povo brasileiro. Cruzamos a Avenida do Estado no pôr do sol e chegamos à ZC após passar por um “cruzamento caótico que frequentemente alaga por ser abaixo do nível do rio Tamanduateí”, me explicou Giovani.
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Desenrolamos um fortalece do tio do estacionamento na frente do Armazém Santa Filomena, depois de deixar as bicicletas em segurança fomos às compras. “É a loja mais barata e com mais variedade então eu sempre vou lá.”. Cereais, oleaginosas, granolas e outros são vendidos a granel pelo atendentes. Para ser atendido você tem que passar por uma fila em um esquema que é como se os Correios tivessem um filho com o Carnaval no 5º dia útil do mês. Pega-se uma senha no meio da loja e eventualmente alguém vai te chamar pra um ponto de encontro onde você vai esperar de novo por mais alguns minutos até alguém te pegar pela mão e perguntar o que você quer. Tudo isso acontece num fluxo de pessoas e produtos intenso, me lembrou a 25 de março na época de natal. “A rua toda é cheia de armazéns especializados, meio que uma versão mais barata do Mercado Municipal, só que as coisas lá custam 40% a mais porque é turístico, a ZC não é turística porque é feio, sujo e tem muito trânsito”
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Saindo do armazém percebi que o estacionamento estava fechado, por um momento os butiá caiu dos bolso. Eis que o tio do estacionamento estava lá no fundo, atrás da grade, com as bicicletas esperando a gente chegar pra fechar (beijo pro tio).
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Voltamos pela mesma Avenida do Estado em direção à Santana, onde Giovani mora e também o nosso destino final. Passando por cima do viaduto avistamos a Marignal Tietê totalmente parada devido ao trânsito, nessa hora nos sentimos muito inteligentes. Na Cruzeiro do Sul o pedivela da bicicleta do Giovani quebrou, por sorte estávamos perto de casa e continuamos a pé, empurrando a bicicleta pela ciclovia. Pouco antes de chegar ainda entramos no Parque da Juventude, onde funcionava o Carandiru, emprestei minha bicicleta pro Giovani dar um rolê no asfalto entre a Biblioteca e a ETEC. Do parque andamos duas quadras até onde ele mora, subimos para comer algumas coisas que havíamos comprado na ZC.
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ROTAS E INFORMAÇÕES
- Vovô Ali — Alameda Barão de Limeira, 608.
- Casa Elefante — Rua Cesário Mota Júnior, 277.
- Casa Búlgara — Rua Silva Pinto, 356.
- Hangar 110 — Rua Rodolfo Miranda, 110.
- Armazém Santa Filomena — Rua Santa Rosa, 100.
- Parque da Juventude — Rua Manoel dos Santos Neto, 23.
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