Se não estamos unidos saibamos a quem derrubar – EDITORIAL

Texto originalmente publicado no zine DEZOITO em 2019.

http://medium.com/dezoito

Texto: Stefano Maccarini

A gente perdeu tanto e continua perdendo. Amigos e amigas foram embora pra longe sem a intenção de voltar. Quem ainda tá por aqui fica com a sensação de fracasso total, eu pelo menos. Sabor amargo na boca e aquelas conversas. É nesse momento que a gente descobre do que a gente é feito. É na hora mais escura que a gente se dá conta dos nossos valores e das pessoas que estão com a gente pra fazer essa luta. Em 2016 quando o Dória foi eleito pra prefeito de SP com o discurso do “Acelera” eu trabalhava em um jornal que havia me deixado preguiçoso. Pegava mais ubers do que eu gostaria de admitir e cada vez menos pegava na bicicleta ou colava em uma bicicletada. Aquele dia de eleição foi um ponto de virada, eu prometi pra mim mesmo que só ia entrar em um carro em caso de extrema necessidade e foi assim em 2017 e 2018, me organizei como nunca antes dentro do movimento cicloativista, trabalhei o melhor que pude pelo que acredito com pessoas que também sentiam o mesmo que eu. Se adiantou alguma coisa isso é assunto pra outra discussão. O importante é se unir e agir na direção das coisas que você acredita. Serve de muito pouco reclamar das coisas quando não se está organizado politicamente, seja dentro de um coletivo artístico, gangue de bike ou partido político. Só em grupos organizados a gente tem poder de fazer as coisas crescerem a ponto de sermos ouvidos. Infelizmente no ano passado tive outro momento desses, dessa vez muito pior, com muito mais amigos e amigas ficando mal junto comigo. A eleição do Bolsonaro trouxe à luz o fascismo que mora ao lado. Até mesmo nas pessoas que mais amamos e que nos criaram com muito amor e carinho. Quem aqui não morreu um pouco por dentro sabendo que os pais apoiaram um miliciano com fetiche em coturno e delírios conspiratórios? Mas é essa a hora de se juntar e pensar novas maneiras de se estar no mundo. Se vai ser na ilegalidade, sem recurso público, com perseguição política, tortura ou exílio, só saberemos na edição do ano que vem. Até lá o que nos resta é se juntar e conversar entre a gente. “Quem tem relações de merda só pode desenvolver uma política de merda.” já disse o Comitê Invisível. A partir daqui a gente constrói relações de afeto e diálogo, assim quando a política de merda passar a gente vai ter uma política de afeto e diálogo, de conversa.